REMEDIAÇÃO
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RACISMO E SILENCIAMENTO
O racismo é um fenômeno complexo.
Ele pode ser abordado por meio das perspectivas individualista, institucional e estrutural.
No caso da remediação do desastre do rompimento da Barragem de Fundão, estes três aspectos foram evidenciados. Houve discriminação no âmbito individual por parte dos funcionários das empresas para com as pessoas negras atingidas. Também foi registrado tratamento desigual, ocultamento da dimensão racial, morosidade no atendimento de demandas individuais e coletivas, gerando tensões sociais no território e conflitos comunitários, no âmbito institucional. Por último, do silenciamento sistêmico das questões raciais e ausência de pessoas negras nos espaços de decisão, uma face do racismo estrutural.
No desastre do rompimento da Barragem de Fundão, a identidade branca representa e ocupa os espaços de poder e decisão e é, no limite, quem dita o que é ou não um dano, e quem é ou não atingido. A invisibilização da questão racial pode ser entendida dentro do contexto de um “pacto narcísico da branquitude'' em que pessoas brancas, embebidas da ideia de universalidade branca, na reparação, se colocam como “resolvedores”. Isso pode ser visto no fato de que os tomadores de decisão e funcionários da Fundação Renova são majoritariamente brancos, enquanto as comissões de atingidos são representadas em sua maioria por pessoas negras. Também pode ser percebido no processo de “judicialização” de temas da reparação que desloca o local de tomada de decisões do sistema de governança, no qual era possível alguma participação e influência de pessoas atingidas, para o espaço do processo judicial. No bojo dessa distribuição desigual de poder na reparação, reside um silêncio de que as pessoas negras não são “capazes” de decidir.