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Pesquisa Domiciliar Participativa

Gavias SliderLayer - PESQUISA DOMICILIAR PARTICIPATIVA

  • LEVANTAMENTO
    Avaliação de Impactos
    do Desastre a partir da
    Pesquisa Domiciliar Participativa
Foto: José Cruz/Agência Brasil

A Pesquisa Domiciliar Participativa (PDP) é um estudo domiciliar amostral realizado pelo Projeto Rio Doce entre julho e outubro de 2022 que busca gerar insumos para o diagnóstico e a avaliação de impactos relacionados com trabalho, renda, autoconsumo, pobreza e saúde da população que reside nos municípios atingidos pelo rompimento da Barragem de Fundão.

A pesquisa visa diagnosticar as condições socioeconômicas atuais dessa população. Além disso, avalia os possíveis impactos do desastre nas trajetórias de trabalho e renda das pessoas atingidas e estima a magnitude desses impactos. A PDP pretende auxiliar na reconstrução do território atingido, oferecendo subsídios na orientação de ações reparatórias a serem desenvolvidas para a retomada econômica, com foco prioritário nos grupos mais vulneráveis.

O estudo coletou informações em duas regiões: os 45 municípios atingidos pelo rompimento, e 136 municípios não atingidos dos estados de Minas Gerais, Espírito Santos, Bahia e Rio de Janeiro.

Foram aplicados dois questionários nos domicílios selecionados por amostragem: o questionário domiciliar e o questionário individual. O primeiro levantou informações sobre o domicílio e todos os seus moradores. O segundo coletou dados somente no nível individual.

Principais resultados

Os resultados apresentados a seguir são baseados em uma amostra parcial de entrevistas completas realizadas até o dia 10 de outubro de 2022.

Isto é, 73,6% do número total planejado de entrevistas.

EMIGRAÇÃO

O rompimento teve um impacto sobre a emigração da região atingida.

Houve um aumento de cerca de 10% das emigrações da região atingida que ocorreram no período.

23 mil

Total de emigrantes da região atingida pelo desastre

TRABALHO

As pessoas da região atingida tiveram maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho. A tabela abaixo mostra o percentual de indivíduos que conseguiram sair do status de não ocupado em 2014 para ocupado em algum período posterior, por ano.

10,4%

Atingidos

14,7%

Não-atingidos

2016

17,4%

Atingidos

27,7%

Não-atingidos

2019

24%

Atingidos

30,6%

Não-atingidos

2022

TRANSIÇÕES LABORAIS

Após o desastre, algumas pessoas tiveram dificuldades em retomar suas principais atividades; outras passaram a exercer trabalhos secundários para complementar a renda; e algumas mudaram de atividade. Aquelas que exerciam a mesma atividade laboral desde que começaram a trabalhar até o momento do rompimento relataram dificuldades em mudar de atividade. Para as que exerciam atividades agrícolas ou de pesca, a produtividade foi afetada pelo fato de o Rio Doce estar poluído e assoreado. Diminuíram-se a quantidade e qualidade de peixes e aumentou a frequência de enchentes, o que piorou a qualidade do solo e afetou negativamente os cultivos. O comportamento dos indivíduos do grupo atingido não difere muito daqueles do grupo de comparação, com diferenças de proporções em até 3 pontos percentuais.

AUTOCONSUMO

162.327

domicílios do grupo atingido possuem algum tipo de produção para autoconsumo

179.388

domicílios do grupo de comparação possuem algum tipo de produção para autoconsumo

Foi encontrado um impacto negativo do rompimento sobre a probabilidade de indivíduos que vivem em domicílios localizados próximos da margem do Rio Doce e/ou litoral atingido pelo desastre terem realizado habitualmente atividades para autoconsumo. Considerou-se que o domicílio tem produção para autoconsumo caso tenha sido declarada dedicação de tempo de pelo menos algum morador para a produção por meio de cultivos, criações, pesca e/ou caça para alimentação de moradores e parentes.

No total, 162.327 domicílios nos municípios atingidos possuem algum tipo de produção para autoconsumo, sendo essa quantidade um pouco maior no grupo de comparação (179.388). As tabelas abaixo apresentam a proporção de domicílios por grupo (atingido e comparação) em que há dedicação à produção para autoconsumo por tipo de produção (“Cultivos” ou “Criações, Pescados e Caça”). Vê-se que a proporção de domicílios em que há produção via cultivos é bastante similar entre os dois grupos

RENDA

O rompimento da barragem teve impacto sobre a renda mensal habitual do trabalho principal.

R$ 369

Redução da renda média de trabalho da população atingida em 2022 em relação ao indicador em 2014.

R$ 3,03 bilhões

Redução anual total das rendas dos trabalhos principais dos indivíduos da região atingida em 2022.

R$ 2.363

Média da renda mensal do trabalho para os moradores ocupados na área atingida

R$ 2.141

Média da renda mensal do trabalho para os moradores ocupados na área de comparação.

R$ 844

Valor médio per capita mensal de gastos domiciliares no grupo atingido (setembro de 2022)

R$ 788

Valor médio per capita mensal de gastos domiciliares no grupo de comparação (setembro de 2022).

SAÚDE

A população de atingidos pelo desastre, avaliada em uma amostra representativa de todos os atingidos, adoeceu no período após novembro de 2015. Foram registradas maiores incidências de doenças respiratórias, doenças de pele, doenças gastrointestinais e problemas de saúde mental, principalmente entre aqueles que vivem na margem do Rio Doce.

Além disso, foi estimado que os gastos domiciliares per capita com saúde dos moradores da região atingida são cerca de 71% acima dos gastos dos moradores da região de comparação.

A percepção sobre a própria saúde em geral, por parte das pessoas atingidas, demonstrou uma pior qualidade de vida em razão dos diversos agravos de que foram acometidos. A percepção da própria saúde como “Muita Boa” foi maior no grupo de comparação do que nos atingidos, enquanto a percepção da saúde como “Regular”, “Ruim” ou “Muito Ruim”, foi maior no grupo de atingidos do que no grupo de comparação.

Percepção sobre a própria saúde

Muito boa

38,71%

Grupo atingido

61,29%

Grupo de comparação

Boa

49,07%

Grupo atingido

50,93%

Grupo de comparação

Regular

54,69%

Grupo atingido

45,31%

Grupo de comparação

Ruim

36,66%

Grupo atingido

61,29%

Grupo de comparação

Muito ruim

54,62%

Grupo atingido

45,38%

Grupo de comparação

Agravos como cânceres, doenças renais, doenças do aparelho digestivo, do aparelho respiratório, de pele e de saúde mental apresentam indícios inequívocos de maior incidência em atingidos que no grupo de controle e maior incidência após o desastre em relação ao período anterior ao desastre.

Para todas as doenças analisadas existe um maior número de casos nos territórios atingidos em relação aos municípios de comparação.

Na comparação temporal, analisando o mesmo período de tempo antes e depois do rompimento da barragem, câncer, doenças renais e gastrointestinais e a saúde mental tiveram aumentos percentuais maiores nos atingidos.

POBREZA

Uma em cada cinco pessoas que vivem atualmente nos 45 municípios atingidos pelo rompimento da Barragem de Fundão vive em lares cuja renda domiciliar per capita mensal está igual ou abaixo da linha de pobreza considerando a dimensão renda (R$ 210 per capita). No total, 412.029 indivíduos que podem ser classificados como pessoas pobres em termos de renda na região atingida.

A PDP apurou que a renda mensal média do trabalho e as demais rendas domiciliares per capita em 2022 no grupo de atingidos são maiores em relação aos municípios de comparação. Contudo, dado que a coleta de informações foi feita em domicílio por amostragem, não se pode descartar que essa diferença seja estatisticamente igual a zero.

Além dos dados sobre a incidência de pobreza de renda, é possível indicar ainda o quão distantes de sair da condição de pobreza de renda estão os indivíduos considerados pobres. Este é o hiato da pobreza, medida da diferença em termos percentuais da renda média dos pobres em relação ao valor da linha de pobreza.

Também é importante considerar a severidade de pobreza de renda. Este indicador dá um peso maior para indivíduos que possuem a renda domiciliar per capita mais distante da linha de pobreza. Em média, em 2022, a severidade de pobreza é menor no grupo atingido do que no grupo de comparação. Isso sugere que a desigualdade entre as pessoas pobres parece ser menor no grupo atingido do que no grupo de comparação.

Perfil da população atingida

Estima-se um total de 2.059.167 pessoas na região atingida e de 2.203.519 pessoas na região de comparação.

O número de domicílios é estimado em 757.804 na região atingida e um total de 805.249 na região de comparação.

A região atingida, 52,7% dos indivíduos eram mulheres e a média de idade foi de 38,9 anos. Essas características são similares na região de comparação: 50,7% de mulheres e média de idade de 38,1 anos.

Quase metade das pessoas do grupo atingido é parda (49,5%), 31,8% são brancas e 15,6% pretas. No grupo de comparação, a distribuição de raça/cor é bem similar, com uma proporção de brancos um pouco maior do que nos atingidos (cerca de 3 pontos percentuais) e de pardos um pouco menor (cerca de 2,5 pontos percentuais).

Considerando apenas a população adulta, com 18 ou mais anos de idade, verifica-se que 92,8% do grupo atingido sabem ler e escrever. No grupo de comparação, esse percentual é similar: 94,4%.

Considerando o período entre o final de 2015 e o momento da entrevista (2022), estima-se um total de 54.203 mortes entre pessoas do grupo atingido e de 48.594 mortes no grupo de comparação. A média de idade dos falecidos foi de 71 anos no grupo atingido e de 67 anos no grupo de comparação.

Assista ao vídeo sobre a PDP
VÍdeo