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    Imagens do desastre
    6 anos depois

Entre novembro de 2021 e janeiro de 2022, portanto mais de seis anos após o rompimento da Barragem de Fundão, o Projeto Rio Doce realizou uma série de vídeos com depoimentos de pessoas atingidas e também convidou o fotógrafo Lalo de Almeida para registrar as marcas do desastre em alguns territórios atingidos. Dos 45 municípios considerados como atingidos, sete foram fotografados, totalizando 13 comunidades.

Os registros mostram que muitos danos decorrentes do rompimento da barragem permanecem e que o desastre mudou a dinâmica das comunidades que vivem ao longo da Bacia do Rio Doce.

MINAS GERAIS

Marcas da lama no Alto Rio Doce

A lama de rejeitos, contaminada com metais pesados nocivos à saúde e ao meio ambiente, destruiu casas, escolas, igrejas e plantações nas comunidades Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, em Mariana (MG), e Gesteira, localizada em Barra Longa (MG). Essas comunidades ficam na Bacia do Rio Gualaxo do Norte, afluente do Rio do Carmo, que por sua vez deságua no Rio Doce.

Os moradores de Bento Rodrigues foram os primeiros atingidos e tiveram a vila soterrada. Em Paracatu de Baixo, um subdistrito de Monsenhor Horta, localizado a 35 quilômetros de Mariana, as pessoas também tiveram de sair às pressas de suas casas.

Na madrugada do dia 6 de novembro, a lama chegou a Gesteira, atingindo toda a população, em especial os moradores da parte baixa da comunidade, conhecida como Gesteira Velha.

Os moradores de Bento, Paracatu de Baixo e Gesteira nunca haviam sido alertados sobre os riscos de viverem próximo a uma barragem de rejeitos.

O município Barra Longa (MG) foi o único que viu a onda de rejeitos invadir o seu centro urbano e, por isso, até hoje convive com obras de reparação. Segundo relatório da FGV, “os rejeitos atingiram primeiro duas comunidades rurais do município: Barreto, situado próximo à fronteira com Mariana e, em seguida, 12 horas depois do desastre, de madrugada, Gesteira. Só aí a administração pública local teve conhecimento de que Barra Longa seria fortemente impactada. Seguindo o curso do Rio Gualaxo do Norte, a lama avançou para o Rio do Carmo, que margeia a cidade, tomando conta da região central.”

Efeitos das obras de reparação

Assim como em outros locais da Bacia do Rio Doce, a comunidade Santana do Deserto, no município Rio Doce (MG), tem sofrido os efeitos prolongados do desastre e também do processo de reparação.

Após o rompimento da barragem, a lama de rejeitos atingiu a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, que fica localizada entre Rio Doce e Santa Cruz de Escalvado. A barragem da hidrelétrica funcionou como um bloqueio para a lama, o que provocou a paralização completa da usina. Por determinação da Justiça, a Samarco deve retirar a lama depositada no reservatório de água e depositá-la na área da Fazenda Floresta, a três quilômetros da usina.

As operações para a retirada dos rejeitos da usina provocaram danos à infraestrutura de casas de Santana do Deserto. Trata-se de uma pequena comunidade, que se formou em torno de uma capela construída em 1745. O local é uma importante referência religiosa, onde se comemora a festa em homenagem à Nossa Senhora Sant’ana há mais de 100 anos.

A cada enchente, o desastre se repete no Médio Rio Doce

Na época do rompimento da barragem, em 2015, a lama de rejeitos interrompeu o abastecimento de água de 392.711 pessoas em 11 municípios da região do Médio Rio Doce, o que desencadeou ou agravou uma ampla gama de danos socioeconômicos. A FGV identificou 38 danos socioeconômicos diferentes, de cunho material e imaterial, em municípios da região.

Ilha Brava foi uma dessas localidades atingidas. É uma comunidade rural localizada no município Governador Valadares (MG), na qual muitos moradores se mantêm com o cultivo de frutas e legumes nas ilhas que se formaram ao longo do tempo no Rio Doce. Já fragilizada pelo desastre, a região também tem sofrido nos períodos de chuva, quando a força da água revira todo o rejeito acumulado no fundo do rio. Em janeiro de 2022, Governador Valadares sofreu a terceira pior enchente da história da cidade, atrás apenas das enchentes de 1997 e 1979.

A aproximadamente 60 quilômetros de Governador Valadares, em Tumiritinga (MG), os produtores rurais do Assentamento Cachoeirinha também convivem com os estragos provocados pelas enchentes e com a incerteza da qualidade da água do Rio Doce, usada para irrigar as plantações.

ESPÍRITO SANTO

A cor do desastre na foz do Rio Doce

No dia 22 de novembro de 2015, a onda de lama de rejeitos chegou ao litoral capixaba e atingiu Regência e Povoação, comunidades no município de Linhares (ES). A praia de Regência é reconhecida nacionalmente pela onda “mais perfeita” do Brasil e costumava atrair surfistas de todo o país nas temporadas e campeonatos. Já Povoação é um pequeno vilarejo de pescadores.

A contaminação do rio e da praia afastou turistas, provocou a proibição da pesca na região e causou profunda alteração na dinâmica do território, com impactos na saúde, na renda e nos modos de vida.

Quando chove no Alto Rio Doce, em Minas Gerais, o rio traz ainda mais rejeitos para a praia e o mar fica numa cor alaranjada, que, segundo moradores, é efeito da quantidade de minério de ferro e outros metais.

Água também é problema em terras indígenas da região

Há grande insegurança dos povos indígenas Tupiniquim e Guarani em relação à água por risco de contaminação de poços de abastecimento, lençol freático, represas e nascentes. Em setembro de 2020, foi determinado que a Fundação Renova continue o abastecimento de água da Terra Indígena Comboios, no município Aracruz (ES), até que a qualidade da água esteja adequada para consumo. Assim a compra de água potável tornou-se a única alternativa segura após o desastre.

Mesmo distantes da foz, outras comunidades são atingidas

Mais de 80 quilômetros separam a foz do Rio Doce da comunidade de pescadores de Barra Nova Sul, no município São Mateus (ES). Mas os efeitos do desastre também são sentidos por lá. Moradores relatam que a água já não é mais a mesma, peixes estão desaparecendo e morrendo e uma espuma amarelada surge na praia com mais frequência. Há também forte preocupação com a sobrevivência da comunidade, que vivia basicamente da pesca artesanal.

Proibição da pesca impacta camaroeiros em Vitória

Diagnóstico da FGV mostrou que ocupações na cadeia da pesca do camarão na Praia do Suá, em Vitória (ES), perderam até 85% da renda após o desastre e a consequente proibição da pesca.

Além da redução na renda, a matriz de danos elaborada pela FGV junto à cadeia da pesca na Praia do Suá identificou a ocorrência de 17 danos socioeconômicos.